segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Viagem de trem

Narrativa

VIAGEM DE TREM – AGRA – JHANSI

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Hoje(02/10/2011) sairemos de Agra com destino a Jhansi, de trem. Será minha primeira viagem de trem na India, e acordo muito curioso e ansioso. Os trens indianos costumam ser superlotados e as estações devem estar num turbilhão, num frenesi. Há muito tempo que desejava viajar de trem pela India. Cerca de 20 milhões de indianos viajam de trem todos os dias ! É como se 10% dos brasileiros viajassem de trem diariamente ! A India tem uma das maiores redes ferroviarias do mundo. Certamente, toda a rede foi implantada pelos ingleses, por que a Inglaterra é um pais que adora trens ! Mesmo aqui no Brasil, a maioria das ferrovias foram construidas pelos ingleses.

Eu acho que os ingleses implantavam trem para escoar as riquezas dos paises em direção aos portos, e daí eram comercializados pelo mundo. E também para cobrar tickets de passageiros, claro. Bom, este não é o assunto aqui.

Chegamos a estação de Agra, e fico decepcionado, está quase vazia, sem maiores burburilhos. Lembro então que hoje é domingo, e por isso todos estão em casa.

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Ficamos esperando o trem, enquanto isso vou observando a estação. Há bebedouros públicos, poucos bancos. A estação está surpreendentemente limpa. Os viajantes estão bem vestidos, algumas mulheres com seus lindos sáris desfilam. Ninguém joga lixo no chão, nem cuspe. 

Existe na estação duas salas para os passageiros de primeira classe. Uma para mulheres e outra para homens. Aqui na India existe ainda essa separação, homens numa sala e mulheres noutra. Tenho ticket da primeira classe e entro na sala dos homens.

Estas salas são feitas para que os ricos não tenham contato com a plebe insignificante, com os intocáveis da terceira classe, são guetos onde todos podem exercer seu preconceitinho básico. Não são confortáveis, não há nada ali, nem Tv nem ar condicionado.

Agra-Estacao Ferroviaria - Salas VIPS

Chega o trem, pontual até. Um rapazola nos seus 14, 15 anos, se oferece para carregar as malas. Ele está uniformizado, tem cabelos bem cortados e penteados, sapatos limpos, e o reconheço como funcionário da estação. São duas malas, uma minha e outra da Solange. Entramos no nosso vagão, e o menino acomoda nossas malas e espera a gorjeta. Ofereço 100 rúpias, uma bela gorjeta. O rapaz recusa, diz que quer 200 rúpias, alega que é 100 por mala. Irritado com o pirralho, enfio o dinheiro no meu bolso e lhe digo que é 100 ou nada. O insolente fica ali plantado ao meu lado, resmungando que quer 200. Não lhe dou atenção, o moleque é muito folgado...

A postura do menino reflete bem a relação do indiano com o turista. A relação é essa : “mim pobre indiano, Buana turista rico. Buana pagar pouco, mim quer receber bastante”.

Soa uma sirene. O trem vai partir. Contrariado, o maleiro diz que aceita as 100 rupias. Idem, contrariado, dou lhe 100 de gorjeta. Os demais passageiros ficam espantados com o valor e o fedelho desce apressado, com medo do fechar das portas.

Partimos, nosso vagão de primeira classe parece daqueles ônibus interurbanos da década de 70. Viação Umuarama, Cometa, Itapemirim, Expresso Nordeste, anos 70. Um pouco mais largo que os ônibus, sem ar condicionado, sem Tv, sem nada. É fedido, tem um cheiro estranho, budum de chulé e cecê. Fico imaginando como deve ser a classe econômica. As cortinas do nosso vagão são feitas de telinha verde, dessas de barrar pernilongo.

O trem segue viagem, é bem barulhento e muito quente. Crianças brincam, gritam e correm pelos corredores. Famílias conversam alegremente, alto.

Vamos observando a paisagem pela janela. É um India linda, rural, pitoresca, colorida, febril. Plantações de arroz, gergelim, canola, criações. Gente andando por todo lado, alguns acenam para o trem.  De repente, o inóspido, o trem atravessa um semi-deserto, terras ruins, arenosas e esburacadas. Vejo algumas pessoas no semi-deserto, parece que estão caçando pequenos animais, talvez algum tipo de preá. Passamos por uma ponte de um grande rio, suas águas são sujas, poluídas, musguentas,  mas há pessoas se banhando e mulheres lavando roupas. Paramos na estação da cidade de Morena, para embarque de mais passageiros. A cidade parece ter sido atacada por um bombardeio aéreo, de tão feia e mal cuidada. É uma favela gigantesca.

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Domingo, e a estação esta relativamente vazia. Para os padrões indianos, está vazia.

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Trem Agra-Jhansi – primeira classe. As janelas tem cortinas de telinha de mosquito, já bem velhas e desgastadas.

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Chegamos a Jhansi, desembarcamos. A cidade é conhecida como “cidade rosa”, e a estação é pintada com essa cor. Foram apenas 2h30 de viagem. Fiquei decepcionado, a viagem foi bem normal, banal, comum, nada de extraordinário, os apaches não atacaram, Sancho Pança não tentou nos assaltar, nenhuma “otoridade” entrou no vagão para inspecionar qualquer coisa.

O encarregado do transfer está lá nos esperando com uma plaquinha, meu nome inscrito. Maravilha, é uma sensação boa, de alívio, ter um estranho te esperando no fim do mundo, segurando uma plaquinha com o seu nome, te procurando. O transfer é um serviço supimpa ! O rapaz do transfer é o que aparece na foto, ao lado da Solange, segurando uma das malas. Ele, para os padrões indianos, está bem vestido, e usa sapatos limpos. Vestiu-se bem e preocupou-se com a aparência para nos receber e eu sou muito grato a ele por isso.

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Estação Ferroviaria de Jhansi

 

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Nosso transfer-man em Jhansi. As crianças indianas adoram ser fotografadas, e a pirralha da foto não quis sair da frente !

 

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